segunda-feira, 15 de agosto de 2011

verão no aquário



Sem intenção, acabei lendo na ordem cronológica: primeiro, Ciranda de Pedra (1954) e agora Verão no Aquário (1963). Respectivamente, o primeiro e segundo romance de Lygia Fagundes Telles. Acabo de notar - e só vale para os místicos - que os livros dela aparecem em momentos cruciais em minha vida. Ciranda me pôs de cabeça para baixo, coma quela intensidade e interações entre tantos personagens e tempos diferentes. Deparo-me agora com este Verão no Aquário, que a princípio não consegui ler. Mas é claro que o problemas estava comigo: jamais poderia um livro de Lygia ser ruim. Só não era o meu momento.
Eis então que termino de ler Verão no Aquário, romance sobre as desventuras da jovem Raíza. Ao contrário do título, esta estação do ano não é recheada de prazeres e alegrias. Contudo, é repleta de intensas emoções e experiências.
A primeira coisa que chama atenção nesse livro é total imersão no mundo de Raíza e descrição do exterior pela sua mente. É uma construção complexa, principalmente, porque a personagem principal e narradora é um poço de dualidades: deseja a liberdade, mas sempre se poda por medo, ou raiva, ou falta de fé, ou saudade. Ela está presa num mundo interior - externado nas figuras da mãe ou na própria cada em que vive ou daquela - a da infância - que será vendida em virtude de dificuldades financeiras.
Raíza está sempre no limbo. A crítica social que permeia o livro - mais acentuada em Ciranda - é primordial para a construção do mundo dos personagens. A protagonista não é pobre, está empobrecida, mas permite gozar de pequenas regalias de classe média criando um mundo ao mesmo tempo imaginário mas extremamente factível entre aqueles personagens que querem perguntas para os sofrimentos, angústia e culpa.
André, amigo ou amante de sua mãe, Patrícia é um dos personagens que mesmo sendo da mesma idade vive uma realidade oposta. A da morte. Rapaz com instinto suicida desafia a filha de sua amiga e protetora pela sua existência efêmera, tanto pela proximidade da morte quanto pela vontade de se santificar e purificar.
O tempo todo é Raíza tentando desafiar o mundo. E sempre sofrendo a frustação de crescer e ver o mundo mudar sem obter reposta alguma.

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